segunda-feira, 25 de agosto de 2008

EDUCAÇÃO: processo contínuo para além dos compartimentos escolares

Existe saberes factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais. Os três primeiros compõem o Ensino, e o quarto compõe a Educação. Construímos saberes nos fatos e deles apreendemos conceitos, os quais nos revelam formas de procedimentos. No entanto, apenas quando atingimos o patamar das atitudes, ou seja, quando todo o processo nos tenha levado a mudar as atitudes é que se pode dizer que se atingiu o patamar da Educação. Portanto a Educação se intenta formar um cidadão pensante e não uma massa amorfa, dado que ela interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para a sua própria transformação.
O ser humano, diferente dos animais, é um ser inacabado. Nasceu para ser mais e isto se dá através de um processo educacional, o qual não está unicamente vinculado à escola, mas é parte de tudo o que envolve a vida desse ser. Tanto é verdade que Brandão (1995, p.10) afirma o seguinte:
“Não há uma forma única nem um único modelo de Educação; a escola não o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante”.

Por isso é importante lembrar que a educação sempre conviveu com espaços extra-escolares, o que equivale à educação permanente. E isso é perceptível na sociedade, dado que “as pessoas aprendem a viver, falar, pensar, amar, sentir, jogar, jurar, sair-se bem, a trabalhar” (Britto, 1991, p.79) fora da escola, em espaços não-escolares. Ninguém escapa, portanto, ao processo educacional por que este está misturado com a vida e de acordo com cada realidade. A Educação existe em cada povo, independente de cultura, raça ou etnia. Cada qual tem sua maneira de educar-se na mutualidade antes mesmo de ter ou não acesso ao ensino escolar.
A Educação constitui-se processo continuado ao longo da vida de cada pessoa, pois “[...] é uma construção contínua da pessoa humana, do seu saber, das suas aptidões, mas também da sua capacidade de discernir e agir” (DELORS, 1999, p.106).
Conforme Gambim (1997), o ser humano é um ser de relações, tanto que para ser pai ou mãe depende de ter filho, ou seja, depende de relacionar-se com alguém. São nas relações que o processo educacional acontece. Tanto que Dolors (1999, p.97) defende a seguinte idéia “[...] ela (educação) tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta”. Não parece ser hoje o objetivo da Educação escolar no sistema vigente! Por isso é que é fundamental que o Educador de hoje compreenda a Educação numa dimensão que vá além dos compartimentos escolares, e com isso possa viver um processo de construção e produção do conhecimento numa relação de VAI e VEM com seus educandos, e não numa forma ilusória de transmissão de conhecimentos, pois “[...] ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção [...]” (FREIRE, 1996, p. 47) e até por que “[...] ninguém educa ninguém [...]” como afirma o mesmo autor.
No processo educacional, de acordo com Britto (1991, p.50) a relação pedagógica por excelência abriga-se no processo de ensino e aprendizagem, polarizado entre aluno e professor, gerando uma relação horizontal, ou seja, quem ensina aprende e quem aprende ensina. É por isso que quanto mais o homem se relaciona mais cresce em seu conhecimento, pois “[...] o homem constitui conhecimento no mesmo processo em que o conhecimento o constitui homem.” (PINTO, 1979, p. 82).
Portanto, a Educação como processo contribuiu para a evolução do ser humano como pessoa, ser social em relações na sociedade. E essa relação faz com que o homem construa uma história social, que é mediada pela cultura, pela educação, pelo ser e pelo fazer. Assim, a convivência é fundamental para transformar o homem de ser biológico em ser social; e a aprendizagem provinda das relações sociais é de grande valia no processo de construção do conhecimento ou erudição. Neste sentido, pode se dizer que a Educação é responsável pelo avanço tecnológico e científico, pois se o homem evoluiu, faz evoluir consigo o mundo em que vive. Como tudo evolui, num mundo globalizado tomado pelos antagonismos de classes, e em que a busca pelo lucro impera, nem a Educação escapa de ser usada como fonte de lucro. Enquanto o Estado, que, atualmente, com sua parca contribuição, vai se retirando, o mercado, ansioso por lucro que é, vai assumindo a educação para satisfazer sua necessidade.
A educação, pois, deve ser uma “educação para a decisão, para a responsabilidade social e política” (Freire, 1989, p.88). Que contribuição para a humanidade tem uma Educação que esteja pautada no lucro? A Educação escolar não teria apenas a função de adaptar os humanos à selvageria do sistema atual? Por outro lado, por que o Estado tem contribuição mínima e por que mais ainda na questão EDUCAÇÃO? Se a Educação faz o ser humano crescer, ampliar seus horizontes e conhecer a dimensão de suas capacidades, seria interessante para ele um povo que pensa, questiona, decide e age?
Talvez não seja um mero acaso um Estado mínimo hoje... E nem menos acaso a proliferação de instituições escolares particulares!

Bibliografia:
- BRITTO, Luiz Navarro de. Educação. Reflexões que transcendem tempos e espaços. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991.
- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33º Ed. São Paulo: Brasiliense, 1995;
- DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir – 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 1999;
- FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 19ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
- ______________ Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996;


sábado, 23 de agosto de 2008

Resenha: Contemporaneidade e Serviço Social: contribuição para Interpretação das Metamorfoses Societárias


A autora é Assistente Social, Professora do Departamento de Serviço Social da UEL, Doutora em Ciências da Comunicação USP e Coordenadora desta pesquisa da qual resultou o presente artigo. Este tem por objetivo provocar debates a cerca da dimensão das transformações societárias, as quais exercem grande influência no que se refere aos espaços ocupacionais do Serviço Social, seja no âmbito público ou privado.
As mudanças contemporâneas dizem respeito a uma possível revolução tecnológica; às negociações que afirma e define o ALCA – Área de Livre Comércio das Américas; a interdependência dos mercados; o Estado Mínimo, com suas privatizações de empresas públicas e a filantropização das instituições, as quais são focalizadas para as camadas mais pobres. São políticas focalistas e fragmentadas das quais não se obtém os resultados esperados.
A autora discute também a dicotomia que existe entre o discurso e a realidade do neobileralismo ideológico, o qual promete igualdade de oportunidades, e no entanto, o que há na realidade é um crescimento significativo da desigualdade da econômica, cultural e social.
Neste contexto, com toda a certeza, a profissão de Serviço Social não está imune mediante essas transformações, pois estas geram mudanças importantes no universo do mundo do trabalho e com isso dinamizam, tanto a demanda que advém para os profissionais, como também os espaços ocupacionais da profissão.
Dentre os diversos resultados de tudo isso, a autora cita alguns, como reduções cada vez elevados de postos de trabalho, cortes orçamentários para as Políticas Públicas, assim com as terceirizações dos serviços.
Tudo isso demanda a urgência que o Serviço Social tem para ressignificar-se enquanto profissão, e encarar de frente as novas dimensões em que as facetas da Questão Social se lhes apresentam. Para isso é necessário retomar a caminhada formativa, porquanto a sociedade requer um profissional conhecedor das relações sociais, econômicas, culturais e políticas locais e por que não dizer, mundiais. Assim, melhorando o nível formativo é possível manter e/ou reconquistar espaços ocupacionais no mercado de trabalho. Caso contrário, os profissionais das áreas afins estarão disputando os mesmos espaços de atuação.
Em suma, a autora vislumbra para o Assistente Social do Século XXI um agente ativo que participe da formulação das Políticas Públicas, assim como aquele que pensa estratégias de enfrentamento da demanda social, enfim, um propositor e não mero executor de tarefas terminais e burocráticas tentando fazer milagres com a escassez de recursos.
No contexto sócio político em que está inserido o profissional do Serviço Social, a submissão às exigências vigentes do mercado de trabalho torna-se inconteste, ou seja, inevitável. Consequentemente ele precisa desempenhar-se como polivalente, e não raras vezes pelos mesmos honorários. Duas alternativas se lhes apresentam: conhecer e assumir as circunstâncias contextuais ou perder-se no mundo dos “desqualificados” pela qualificação do universo do mundo do trabalho. Um contradição aqui se evidencia: quanto mais os instrumentos de trabalho são qualificados pela tecnologia, mais o trabalhador – o ser social – carece de formação/qualificação. Num contexto globalizado tudo acontece muito rapidamente e o ser humano, se pretende permanecer inserido no mercado, deve arrastar-se paralelamente a ele.
Por conseguinte, emerge para o Assistente Social a necessidade de estar envolto num processo de formação contínua, caso contrário, pode engrossar as fileiras existentes no mercado excedente. Como trabalhador assalariado o profissional não pode acomodar-se mediante as metamorfoses ocorridas na sociedade, pois enquanto membro da classe trabalhadora, vive as mesmas contradições, em maior ou menor intensidade, o processo de exploração de sua força de trabalho. Enquanto subordinado a um empregador não tem autonomia para desenvolver suas ações. Deve trabalhar de acordo com as diretrizes ditadas pela instituição empregadora, com quem mantém vínculo empregatício. Neste caso, a instituição pode ser as Políticas Sociais e o empregador, o Estado.
Neste, os recursos, amiúde, são escassos e por isso o profissional trabalha com a seletividade dos usuários, o que se constitui contraditório ao que afirma a própria LOAS/93[...] para todos que dela necessitarem[...] e ao próprio compromisso ético político profissional que deve atender com eqüidade a diversidade da demanda. Aquele que é tido como o promotor de emancipações e protagonismos, torna-se meramente pragmático.
Historicamente é perceptível que a profissão de Serviço Social careça de uma nova ressignificação, com novas metas de atuação – fazer valer a intenção de ruptura – que alargue horizontes e mostre novos rumos mais eficientes e eficazes de enfrentamento da demanda. Para tanto é preciso um profissional com maior qualificação, que atenda às novas demandas e desafios, que enalteça a Ética Profissional e que saiba identificar a complexidade das relações sociais. Além disso, que busque incessantemente novos conhecimentos, que trabalhe de forma interdisciplinar, que busque para si um processo continuado de formação para assim estar capacitado para integrar e coordenar equipes e, acima de tudo, com aguçado senso crítico e competência para decifrar a realidade. Somente a partir daí, é possível, de forma mais efetiva, garantir e preservar o direito do usuário.
Agilidade, criatividade e liderança são características pertinentes e essenciais ao perfil do Assistente Social do Século XXI, tanto para quem atua nas Políticas Sociais, como para ousa romper com o mundo conhecido para atuar na diversidade demandatária emergente para o Serviço Social.
Ana Carolina Santini B. de Abreo

sexta-feira, 11 de abril de 2008

ASSISTENTE SOCIAL

Profissional que atua nas expressões da Questão Social, formulando e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de Políticas Sociais Públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Profissional dotado de formação intelectual e cultural generalista crítica, competente em sua área de desempenho, com capacidade de inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. Profissional comprometido com os valores e princípios norteadores do Código de Ética do Assistente Social.

Competências e Habilidades

A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade; Análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país; Compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; Identificação das demandas presentes na sociedade, visando formular respostas profissionais para o enfrentamento da Questão Social, considerando as novas articulações entre o público e o privado. Estes elementos estão em consonância com as determinações da Lei n. 8662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissão de Assistente Social e estabelece as seguintes competências e habilidades técnico-operativas:- Formular e executar políticas sociais em órgãos da administração pública, empresas e organizações da sociedade civil;- Elaborar, executar e avaliar planos, programas e projetos na área social;- Contribuir para a viabilizar a participação dos usuários nas decisões institucionais;- Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;- Realizar pesquisas que subsidiem formulação de políticas e ações profissionais;- Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;- Orientar a população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos;- Realizar estudos sócio-econômicos para identificação de demandas e necessidades sociais;- Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social;- Exercer funções de direção em organizações públicas e privadas na área de serviço social;- Assumir o magistério de Serviço Social e coordenar cursos e unidades de ensino;- Supervisionar diretamente estagiários de Serviço Social.
(Fonte: Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social - CRESS/PR)

Símbolo da Profissão de Serviço Social






Balança com a Tocha


O fogo representa o conhecimento e a balança equilibrada representa o equilíbrio social. Quando ela pende para um dos lados significa desigualdade social. O Assistente Social se utiliza do conhecimento (fogo) para equilibrar a balança promovendo a equidade e a Justiça Social.